Keptinis (grãos cozidos) - Um estilo da Lituânia


Tradições e técnicas históricas de fabricação de cerveja foram passadas de geração em geração nas fazendas em áreas remotas do norte da Europa. Com essas tradições quase em extinção, o autor Lars Marius Garshol decidiu explorar e documentar a arte perdida da fabricação de cerveja usando métodos tradicionais locais. 

Mapa evidenciando a localização da Lituânia

Lendo o livro de Lars Marius Garshol: "Historical Brewinh Techniques. The Lost Art of Farmhouse Brewing", uma das técnicas que mais me chamou a atenção foi a produção do Keepinis (Keptinis), onde o malte é cozido no formo para obter aromas e sabores exclusivos.

Vocês já imaginaram fazer uma cerveja com múltiplos aromas e 
sabores usando somente o malte Pilsen?

Esse foi o objetivo seguindo a receita original do Keepinis (keptinis). 

Para realizar essa façanha com equipamentos diferentes dos originais, adaptações foram feitas, mas sempre tentando manter o máximo a originalidade dessa receita. Testamos para um volume estimado de 20 litros de cerveja. Todo processo segue o fluxograma abaixo:

Portanto, como observaram é um processo bem diferente do que estamos acostumados a realizar. O método de brassagem foi o Herns, com duas panelas: Uma de brassagem e outra de aquecimento de água e fervura. 
  1. Realizamos uma brassagem normal com 5,0kg de malte Pilsen a 65ºC durante 1 hora.
  2. Recolhemos o mosto em um balde sem a lavagem dos grãos.
  3. Depositamos as cascas dos grãos em uma bandeja e levamos para o forno (churrasqueira) e deixamos por 3 horas no fogo (cama de carvão). A temperatura foi mantida a 300ºC aproximadamente.
  4. Após o cozimento, recolhemos as cascas que estavam no fogo e colocamos na panela de brassagem.
  5. Colocamos o mosto, que estava separado, junto com as cascas cozidas na panela de brassagem. Deixamos de molho por 15 minutos.
  6. Levamos para fervura durante 60 minutos para esterilizar e evitar DMS.
  7. Adicionamos o lúpulo Harllertau Magnum (15g) no início da fervura.
  8. Resfriamos até 35ºC e incluímos a levedura Simonaitis da Lituânia (30ml de lama).
  9. Obtivemos 16 litros de mosto a 12 brix.
  10. A fermentação ocorreu no ambiente com amplitude térmica de 22 a 29ºC.
  11. Após fermentação, a cerveja foi maturada a 1ºC por 7 dias.
  12. A cerveja foi transferida para um postmix de 19 litros e a carbonatação foi forçada a 2,0 BAR. A cerveja ficou condicionada no Kegerator a 1,0ºC por 5 dias antes de ser degustada. 
Cascas na bandeja na churrasqueira

Cama de fogo (+- 300ºC)

Após 3 horas de cozimento

Cerveja pronta
Clara com uma espuma muito cremosa e consistente.
Aroma predominando de defumado.
Sabor defumado com ligeiro tostado e amadeirado.
Grande potencial. Muito diferente. Boa cerveja.

Essa foi nossa primeira tentativa de fazer a Keptinis. Não tínhamos a menor noção dos problemas e desafios que iriam surgir, mas foi um prazer fazê-la. Todo processo durou cerca de 12 horas e nem tudo saiu como previsto, mas a cerveja está pronta e ficou muito interessante, merecendo cuidados e acertos para a próxima brassagem.

Problemas:
  1. O cozimento foi realizado em uma churrasqueira, fugindo do padrão forno recomendado. Portanto, acho que defumamos mais do que cozinhamos.
  2. Era previsto uma cerveja escura e a nossa ficou clara. Devemos trabalhar melhor o líquido caramelizado na forma.
  3. O defumado poderia ficar menos evidente, apenas residual como, provavelmente, ocorreria em um forno.
Depois de alguns dias tomando essa cerveja e analisando o sabor e aroma, decidi que vou manter a receita. Ficou ótima.

Bibliografia consultada:

GARSHOL, L. M. 2020. Historical Brewinh Techniques. The Lost Art of Farmhouse Brewing. Brewers Publications, Boulder, Colorado, USA.











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