Giselle Cristian Carpenedo
O processo de torra de grãos de forma caseira, transformando um malte base (pilsen ou pale ale) em um malte especial (p. ex. cristal) pode ser feito de duas formas distintas: torra seca e torra úmida.
TORRA SECA
A primeira e mais fácil é a torra dos grãos de malte base seco diretamente no forno. Nesse processo estaremos trabalhando principalmente com a reação de Maillard, que acontece entre carboidrato e proteína, formando as melanoidinas.
O processo é simples: basta colocar os grãos em uma forma e levar ao forno. Veja como fiz:
Eu usei uma forma de pizza que é mais baixa. Cobri a forma com uma folha de alumínio para dissipar melhor o calor e evitar que os grãos grudem na forma, pois pode ocorrer uma pequena caramelização, principalmente a altas temperaturas.
Pese a quantidade que pretende fazer a torra; no meu caso usei 300 g de malte pale ale. Coloque o malte sobre a forma e distribua uniformemente.
Para cada tipo de malte que se quer obter devemos deixar em determinada temperatura e por determinado tempo. Quanto maior a temperatura e o tempo de exposição, maior será a mudança da cor do malte, alterando também os aspectos sensoriais do grão. No caso da torra a seco obteremos notas tostadas, avelã, nozes.
Antes de colocar o malte no forno, pré-aqueça
até a temperatura desejada; após, revire os grãos a cada 5 a 10 minutos, para
garantir maior homogeneidade na torra do malte.
Decorrido o tempo desejado, desligue
o forno e abra a porta deixando os grãos esfriarem.
Abaixo temos o resultado obtidos a partir dos dados
coletados no livro: Roasted: A Homebrewer's Guide to
Home Roasting, que nos dão um parâmetro do malte que iremos obter:
TORRA
ÚMIDA
Já o processo de torra do malte
úmido é um pouco mais complicado e trabalhoso que o anterior.
Nesse caso predominará a reação de
caramelização do malte, que acontece, por exemplo, quando caramelizamos o
açúcar. Vamos obter um malte cristal, através da sacarificação, podendo ocorrer
também a reação de Maillard.
Faça a pesagem do malte base e
adicione água suficiente para cobrir os grãos, deixando de molho por 2 a 4
horas, a fim de umedecê-los bem, se necessário adicione mais água para que
fiquem completamente submersos pelo tempo que desejar. Escorra o excesso de
água e distribua na forma coberta por folhas de alumínio.
Dessa vez eu pesei 1 kg de malte
pilsen e usei uma forma mais funda em razão da maior quantidade de grãos e do
processo de sacarificação que será realizado, um mini-mash em cada grão.
Deixei os grãos em imersão na água
por 4 horas, o malte ficou bem mole, facilmente amassado com os dedos. Em outra
oportunidade deixei os grãos por apenas 30 minutos, e notei que quanto mais
tempo de molho na água mais umidade é absorvida e consequentemente maior será a
sacarificação assim como será necessário maior tempo de secagem do grão no
forno.
É importante nesse processo o
controle da temperatura, mas como eu não tenho um termômetro de vidro e o meu
forno é elétrico, coloquei entre 60° C a 70° C por 1 e ½ hora, após esse tempo
elevei a temperatura do forno para 90° C por mais 1 e ½ hora e comecei e
revolver os grãos de tempo em tempo (a cada 5 – 10 min) para secarem por igual
e completamente, mas como disse, como deixei o malte de molho por 4 horas, esse
tempo não foi suficiente para secar totalmente os grãos.
Foi necessário aumentar a
temperatura do forno para 210° C e revolver os grãos a cada 05 - 10 minutos,
por mais 40 - 50 minutos, quando então percebi que o malte secou completamente;
para isso ia tirando um pouco do malte a cada 15 - 20 minutos.
Ou seja, quanto maior o tempo do
malte de molho na água, maior será o tempo necessário para secagem do mesmo,
porém a sacarificação será bem maior em razão da completa umidade do grão.
Quando deixei o malte de molho por apenas 30 minutos não foi necessário essa última
secagem a 210° C, por 40 - 50 minutos, bastaram 1 hora a 60/70° C e mais 1 hora
a 90° C, o malte não ficou tão mole, ou seja, a água não penetrou em todo o
grão, atingindo apenas a superfície do malte, assim a sacarificação ocorreu
superficialmente.
Portanto, quando for fazer o processo
de torra úmida do malte tenha em mente que quanto maior o tempo do molho, maior
será o tempo de secagem do malte, sendo necessário ficar atento quando o grão
secar; para isso basta tirar um ou dois grãos de tempo em tempo, deixar esfriar
um pouco e tentar amassar, quando estiver duro, que não se desmanche, já estará
seco.
Quando o malte enfim secar se dá
início à tão esperada fase de caramelização do malte; você deverá manter ou
aumentar a temperatura o forno a 210° C; da mesma forma que na torra a seco,
quanto maior a temperatura e a exposição do malte ao calor maior será a mudança
da cor e dos aromas do malte.
Não se esqueça de remexer os grãos a
cada 5 a 10 min para que a torra seja homogênea, principalmente porque a
temperatura é elevada e alguns grãos podem tostar mais que outros, ou até mesmo
torrar.
Abaixo temos o resultado obtido, se
assemelhando dos maltes cristais, depois de secos, conforme tempo de forno a
210° C:
Em ambos os processos, após a torra
a seco ou úmido, é necessário deixar o malte por 2 a 3 semanas “descansando”
num pote fechado, período também chamado de pouso técnico, quando se dará a
homogeneidade da umidade dos grãos e a dispersão de odores e sabores
indesejados. Também é preciso abrir o pote periodicamente por alguns minutos durante
esse descanso para que malte “respire”.
Pronto, seu malte especial já pode
ser usado nas suas receitas!!!!
Voltarei aqui pra contar as
impressões que tive com os maltes que torrei, depois de prontas e degustadas as
cervejas. Cheers!!
Giselle Cristian Carpenedo
É advogada atuante na cidade Tangará da Serra-MT, iniciou
como cervejeira caseira em maio de 2019.
Referências:
Jason Johnson. Roasted: A Homebrewer's Guide to Home
Roasting Grain. Kindle Edition.
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